No dia 13 de março de 2025, a A2S apresentou, na Bolsa de Turismo de…

Conferência Sabor Saloio – Região Saloia afirma a importância da Gastronomia e dos Produtos Locais
A gastronomia e os produtos saloios são associados à qualidade e podem ser um importante fator de criação de riqueza, emprego e preservação da cultura a identidades locais.
Esta foi a principal conclusão da Conferência Sabor Saloio – Valorizar a Gastronomia e os Produtos Locais, que decorreu no passado dia 29 de novembro, na Quinta das Carrafouchas, no concelho de Loures.
Entre queijos frescos e curados, pão saloio, vinhos da quinta, maçã reineta de Sintra, leitão de Negrais, doçaria da região saloia e outros produtos locais, os cerca de 100 participantes tiveram a oportunidade de debater questões relacionadas com estratégias de valorização destes ativos.
A conferência foi uma organização da A2S e contou com o apoio da Câmara Municipal de Loures, da Quinta das Carrafouchas e de um vasto conjunto de produtores e parceiros locais.
Na sessão de abertura, o anfitrião, António Maria Cannas, deixou as boas vindas a todos os presentes e apresentou a Quinta das Carrafouchas, destacando a sua produção de vinho. A Quinta das Carrafouchas possui a vinha mais próxima da cidade de Lisboa e atualmente desenvolve de forma regular várias atividades de Enoturismo sobretudo direcionadas a estrangeiros.

Já Joaquim Sardinha, Presidente da A2S, salientou que, em 2 anos, desde o início da abordagem LEADER na região saloia os produtos locais já são direta ou indiretamente responsáveis por mais de 40 projetos, que se traduzem num investimento total superior a 4,2 M€, que contam com um financiamento de aproximadamente 960 mil € e que vão permitir criar cerca de 40 postos de trabalho, sobretudo nos setores do leite e produtos lácteos, hortofrutícolas e vitivinicultura.
Por seu turno Bernardino Soares, Presidente da Câmara Municipal de Loures corroborou a importância dos produtos locais para a região e para o concelho, em particular na sua zona norte, referindo que a valorização da agricultura, apicultura, vitivinicultura e todo o restante setor agroalimentar, assente ainda na existência do MARL no território de Loures assume especial importância.
Sublinhou ainda que a aposta nos produtos genuínos, potenciar o enoturismo e a ligação ao património e às paisagens da zona rural, contribuirão para o fomento económico do território, criando melhores condições de vida para quem cá reside e trabalha.
No painel dedicado à contextualização da temática Ana Paula Assunção, historiadora e museóloga, referiu que falar de produtos saloios é saber evocar a qualidade, bons sabores, memórias positivas, agradáveis, saudáveis e turisticamente sustentáveis.
Apresentou diversos exemplos de receitas antigas que são de comer e chorar por mais como o bacalhau albardado, a canja da galinha gorda, o coelho à caçador, a meia-unha com grão, a meia desfeita, com pão saloio, com queijo fresco, com as filhoses de Fanhões, os bolinhos de noiva de Loures, o pão de ló de Loures, a aletria e o arroz doce, enquadrando estes pratos na tradição alimentar mediterrânica. A gastronomia tradicional é uma peça de resistência da identidade local, SALOIA, não é sempre igual ao longo do ano, utiliza produtos de época, respeita ritmos, entre eles, os nossos próprios ritmos biológicos tão ligados ao ambiente natural, defendeu.
Isabel Rodrigo, numa comunicação sobre a importância socioeconómica dos produtos locais apresentou uma breve resenha sobre a evolução ao longo do tempo da política europeia de reconhecimento e proteção de produtos agroalimentares iniciada em 1992, sublinhando que esta permitiu proteger/evitar o desaparecimento, através da valorização comercial, de muitos produtos “tradicionais” que ainda existiam, sobretudo, nos Estados Membros do Sul da UE.
De acordo com a professora do Instituto Superior de Agronomia, Portugal possui 13% dos produtos certificados de toda a UE, valor apenas ultrapassado pela Espanha, França e Itália, contudo o volume de negócios representa apenas 0,5% do total.
Isto deve-se ao facto de apenas metade dos produtos certificados portugueses apresentarem produção ou à valorização muito reduzida ou heterogénea por parte do mercado.
De facto, o número de produtores é reduzido e decrescente e existe uma fraca organização das cadeias produtivas, de distribuição e comercialização.
Apesar do contributo para a melhoria das economias e dinâmicas rurais, da valorização e preservação de tradições culturais, de variedades e espécies autóctones, reforço de identidades territoriais locais rurais e da preservação da biodiversidade, existe um fraco reconhecimento da qualidade intrínseca dos produtos de qualidade por parte dos consumidores, que está restrito a alguns nichos de mercado.
Por isso, sugeriu, que há que apostar na profissionalização das estruturas de gestão, na definição de políticas de apoio aos produtos certificados com os diferentes atores envolvidos na cadeia e ganhar escala nas áreas de produção, transformação e distribuição.
Por último, Rui Rosa Dias, professor do IPAM, apresentou as principais tendências do consumo agroalimentar, que se dividem em quatro grandes áreas, a saber: justo, limpo, bom e filosofia agro-alimentar.

Na área justo, o combate ao desperdício alimentar, o aumento de consumo de produtos biológicos per capita e a criação de uma reserva gastronómica mundial para gastronomia regional portuguesa figuram entre as principais tendências.
O crescimento da agricultura sintrópica e produtos de excelência, a certificação slow food para o canal HORECA, a indicação da pegada de carbono na rotulagem e a preferência por canais de distribuição de proximidade ou circuitos curtos figuram entre as principais tendências, na área limpo.
No que concerne à área bom, merecem destaque a “confort food” enquanto elemento de prazer e felicidade como opção de menu e a preocupação com a saúde, devendo as embalagens mencionar de forma clara o grau de dependência que os produtos podem provocar.
Finalmente na área da filosofia agroalimentar, evidencia-se a promoção da figura de gastrónomo regional, ao nível da edução, uma maior valorização do estar à mesa em detrimento da tecnologia e maior “verdade do marketing alimentar”, não defraudando as expectativas do consumidor.
No painel intitulado “estratégias de valorização da gastronomia e dos produtos locais”, que decorreu em formato de entrevista, o chef António Alexandre, sublinhou que existe uma procura crescente pelos produtos endógenos e sazonais, referindo que estes, ao contrário dos produtos standard são capazes de proporcionar experiências verdadeiramente genuínas. Confidenciou que na sua atividade utiliza diversos produtos oriundos da região saloia, em particular o queijo, o pão e o vinho.
José Borralho, da Associação Portuguesa de Turismo de Culinária e Economia, salientou que a comida é um dos aspetos mais valorizados na escolha do destino de férias e apresentou alguns indicadores que atestam a importância económica dos produtos locais.
Por seu turno Pedro Saraiva da TagusValley, relevou o trabalho, com mais de 25 anos, desenvolvido pelas associações de desenvolvimento local, na valorização e preservação dos produtos locais. Destacou ainda que a inovação e a tecnologia podem desempenhar um papel bastante pertinente na qualificação dos produtos locais, em particular quando há necessidade de ganhar escala e aumentar a produção, garantindo a sua homogeneidade.
Olga Cavaleiro, da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas, discordou da ideia de que o papel das confrarias gastronómicas se restrinja apenas a produtos tradicionais, por um lado porque é bastante discutível o conceito de tradicional e por outro porque as confrarias dependem essencialmente de um território ou de um local para justificarem a sua existência e não apenas da existência de produtos.
Projeto “maçãs de Lisboa” Manuel Costa e Oliveira, produtor de maçã reineta de Sintra e mentor do projeto vencedor do Orçamento Participativo Portugal “Transformação de variedades de maçãs tradicionais” salientou que pretendeu com a candidatura promover um conjunto de iniciativas que possibilitassem valorizar as maçãs sem valor comercial. Uma vez que a produção de maçã reineta de Sintra é bastante reduzida, entendeu propor que o projeto fosse extensível também a outras maçãs da Área Metropolitana de Lisboa, nomeadamente a riscadinha de Palmela e a camoesa de Sesimbra. O Ministério da Agricultura entendeu delegar a concretização das atividades previstas na candidatura nas duas associações de desenvolvimento local da AML: a A2S e a ADREPES. Durante a conferência foi apresentada publicamente a imagem do projeto, desenvolvida por Paulo Marcelo, da PM Design, que passará a denominar-se “Maçãs de Lisboa”. De acordo com a Diretora Executiva da A2S, Márcia Mendes, estão previstas diversas atividades relacionadas com a valorização das três variedades de maçãs, como a plantação de árvores por parte da comunidade escolar, concursos de receitas ou caracterização das propriedades nutricêuticas. |
De uma forma geral, todos os oradores salientaram a necessidade de “educar o gosto” para os produtos locais junto de públicos mais novos, em particular os que ainda estão em idade escolar, de promover ações de qualificação direcionadas para produtores locais em áreas como o marketing, inovação, utilização de produtos e gastronomia locais na restauração, etc. Mencionaram ainda a necessidade de colocar o consumidor “no centro das atenções”, de forma a conquistá-lo para a gastronomia e produtos locais.
Foi igualmente realçada a necessidade de criar uma marca “saloia” sob a qual se possa fazer a promoção e a valorização dos produtos, mas também o planeamento integrado, o turismo, a inovação e as parcerias entre diferentes atores, numa visão ampla da região.
Na sessão de encerramento Gonçalo de Freitas Leal, Diretor Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural, salientou a importância do trabalho desenvolvido pelos GAL em prol dos produtos locais e o projeto tradicional.pt, que pretende oferecer uma “certificação” menos burocrática e facilmente acessível às pequenas produções locais.